Um amor que não morre

Hoje decidi partilhar com vocês um amor, mas não é um amor qualquer. Não foge à regra dos outros. Tendo de ser vivido então, intensamente, livremente, com o coração carregado de bondade e sobretudo humildade. Um amor que tal como os outros também tem de ter sacrifício e entenda-se sacrifício como algo que te obriga a dar o teu melhor, a saberes todos os dias mais e mais, para assim poderes servir a causa e não servires-te da causa, como muito acontece por aí, mas isso são outras conversas.

Vou aqui confessar o porquê de eu um dia ter assumido esta missão de heróis. Ter dado tudo por esta causa e me ter apaixonado infinitamente por algo que eu não sabia que ia ser tão importante para mim e que me iria fazer tão feliz.

Um dia, à hora de jantar em casa disse aos meus pais que queria ser bombeira. Eles claro, cientes de todos os riscos que um bombeiro corre, do que está sujeito, das horas mal dormidas, da correria e sobretudo de toda a exigência que impunha usares aquela farda, disseram-me não. Fiquei amuada claro por não ter sido aprovada a minha vontade e sobretudo por me cortarem logo as bases.

Passado um ano, estou a caminho do Porto com o meu pai, mas a viagem nem a meio chegou. A famosa estrada da morte IP4, agora A4, estava em fase de conclusão pelo que apenas havia uma faixa para cada lado, tornando o espaço bem reduzido e sem aquela berma que por todas as estradas existe ate uma valeta. A música que tocava no meu cd que fazia questão de por sempre que entrava no carro era se não estou em erro era qualquer coisa do género “agora eu quero ver levantar a tua mão e tirar o pé do chão, nesta onda de paixão. Pois bem, ironias do destino, levantei uma mão, depois a outra, os pés, sei lá. Em fracção de segundos vi a minha vida a acabar ali. O meu pai ia concentrado na estrada. Parecia pelo menos. Tinha um cigarro na mão. Que eu supus que ele o quisesse fumar e iríamos encostar na estação de serviço, mas não. Passei a estação de serviço e ele não disse nada. Uns 200m à frente começou o meu pesadelo.

O meu pai começou a ter um ataque de epilepsia. O mundo parou naquele momento. Eu perdi a noção do tempo e do espaço. A primeira reacção foi abrir os vidros, por 4 piscas e pegar no telemóvel. Acelerava a fundo pois na minha ideia já estava mais perto de Vila Real. Do outro lado da chamada uma sra do CODU NORTE atendeu a minha chamada, expliquei tudo muito aflita e sem saber o que fazer. Ela pediu que encostasse o quanto antes e assim fiz, mal tive oportunidade. O condutor do carro que vinha na nossa retaguarda apercebeu-se que algo não estava bem, encostou um pouco mais à nossa frente e veio a correr para me auxiliar. Eu comecei a correr na direcção dele pois o CODU pedia-me o km a que estávamos e eu não sabia dar essa informação.

Estava completamente em pânico.

A Brigada de Trânsito nem um minuto demorou a parar atrás de nós, sendo um dos agentes e dar toda a informação necessária acerca da localização ao CODU. Eu com toda a aflição e porque só sabia o básico arrastei o meu pai do carro para o chão, deixando-o voltado para o lado esquerdo. Felizmente e porque estávamos perto, a SIV Mirandela não tardou a chegar para nos auxiliar. Uuuuffff, que alívio quando vemos esses homens e mulheres não é ? Eu na altura, confesso que nada percebia do assunto e só queria que eles levassem o meu pai dali. Fizemos inversão de marcha em direcção a Mirandela pois estávamos apenas a 5min do hospital.

Quando cheguei ao Hospital de Mirandela é que a ficha caiu e comecei a perceber tudo o que se estava a passar. Estava sozinha, não sabia como ligar para casa dando a notícia à minha mãe pois sabia que ela iria ficar super aflita.

Felizmente tudo acabou bem.

Passado 2 meses, cheguei a casa e tal como da outra vez à hora de jantar disse aos meus pais “inscrevi-me nos bombeiros”. O que me aconteceu, fez-me pensar que se a passagem de informação para o CODU e a resposta da SIV não tivessem sido tão rápidas, eu não sei o que poderia ter acontecido.

Então reflecti, “eu também posso ajudar alguém que esteja na mesma situação ou em outras parecidas, necessitando de nós”. E sabem ? Foi sem dúvida a melhor decisão, que tomei em toda a minha vida. A minha corporação, Bombeiros Voluntários de Bragança sempre será a minha segunda família. Considero-me uma sortuda por lidar com profissionais de excelência, pessoas com diversos feitios e ideais, mas ali aprendemos a lidar com todas as situações de socorro como também com as diferenças de um ser humano, formando assim um só que dá origem a uma equipa incrível de homens e mulheres que lutam pela mesma causa.

Hoje resta-me sentir um orgulho tamanho pela farda, pela luz que apareceu na minha vida e sobretudo agradecer aos meus colegas. Foram eles os responsáveis por toda a minha aprendizagem e crescimento com aquela farda.

Um bem haja a todos quantos vestem a farda de bombeiros e a sabem HONRAR.